Quebra-cabeça do 'golpe' começa a se encaixar

Quebra-cabeça do 'golpe' começa a se encaixar

 

Tudo, menos inocente 

Se as provas forem tão contudentes quanto as declarações feitas pelo hacker Walter Delgatti Neto, durante seu depoimento hoje na CPI mista dos Atos Antidemocráticos, no Senado, pode-se dizer, de fato, que o governo anterior tinha um "gabinete do odio", que o poder do presidente estava a serviço de seus interesses pessoais, que um crime grave estava sendo urdido nas dependências do Planalto, com o aval do chefe máximo da Nação e a cumplicidade de membros do Exército. A desobediência civil era a ordem do dia.

Denúncias gravíssimas

Delgatti foi chamado de "estelionatário profissional" pelo senador Sergio Moro (União-PR), outrora alvo de um ataque cibernético deste mesmo hacker que trouxe à tona conversas nada republicanas da Lava Jato. Foi criticado pelos filhos de Bolsonaro e outros bolsonaristas que acompanhavam o depoimento na comissão. Mas o fato é que ele deu detalhes finos das conversas travadas com o então presidente sob a condução direta da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). "Caso alguém te prender, eu mando prender o juiz", teria dito o presidente da República ao incentivar que Delgatti assumisse um suposto grampo telefônico do ministro do STF, Alexandre de Moraes.

Perdão presidencial

Segundo Delgatti, Bolsonaro lhe prometeu anistia ou indulto em caso de prisão do hacker por supostamente assumir autoria do grampo telefônico de Moraes. Iria fazer o mesmo que fez com o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), após ser condenado em abril do ano passado pelo STF a 9 anos de prisão por ataques à democracia.

Prisão à vista

Diante dessas denúncias "bombásticas", como classificou a relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), já há uma forte leitura nos bastidores de que a prisão de Bolsonaro é certa e líquida. Consultado pela Coluna, o jurista Max Telesca disse que o depoimento de Delgatti e a apreensão do celular do advogado Frederick Wassef, que defendia o então presidente, aproximam Bolsonaro de uma prisão preventiva. As denúncias de que estava, realmente, conspirando contra o sistema eleitoral pode ser um fator determinante para isso.

Defesa reage

Advogados de Bolsonaro contestam as denúncias feitas pelo hacker, que envolvem diretamente o ex-presidente num esquema criminoso em que ele era o "chefe". Vão processar Delgatti por crime de calúnia por apresentar "informações falsas".

Mas eles se conheceram 

O fato é que o hacker Walter Delgatti Neto e o então presidente da República se encontraram na estrutura do governo e conversaram sobre a efetividade das urnas eletrônicas. Delgatto garante que Bolsonaro o ordenou que invadisse o sistema com um código-fonte _fake_ para provar à sociedade de que sua tese da fragilidade das urnas eram verdadeiras. Tudo sob a complacência e cumplicidade de militares citados no depoimento. Com a palavra, o Exército.

Novo depoimento 

Delgatti vai depor de novo, nesta sexta-feira, 18. Mas desta vez na Polícia Federal que o convocou depois das declarações feitas na comissão parlamentar. O cerco tá se fechando.

Indiciamento

Ainda não há nenhuma manifestação da cúpula CPI mista sobre uma possível convocação do ex-presidente para depor na comissão. Mas, a relatora, Eliziane Gama, já acenou que deve pedir o indiciamento de Bolsonaro em seu parecer final.

Heroína

Numa época em que "mitos" são fabricados à revelia dos conceitos, uma mulher anônima e real vai ter seu nome inserido no livro dos "Heróis e Heroínas da Pátria" por sua relevância e luta no contexto social durante sua vida: Margarida Alves, a mesma que emprestou o nome para a Marcha das Margaridas criada em sua homenagem após seu brutal assassinato há 40 anos. A lei federal com o reconhecimento foi sancionada nesta quinta-feira, 17, pelo presidente Lula.

Por Coluna Valéria Costa em 17/08/2023
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