Queimadas no Brasil: um alerta urgente diante da emergência climática

Por Filinto Branco. Colunista político

Queimadas no Brasil: um alerta urgente diante da emergência climática

Ano após ano, as imagens de vastas áreas da Amazônia e do Cerrado em chamas tornaram-se uma cena dolorosamente rotineira. Mas o que presenciamos esta semana foi o Brasil inteiro pegando fogo, inclusive em localidades que não ocorria esse fenômeno com tamanha assiduidade, como no que resta de mata Atlântica. Os estados de MG e São Paulo castigados pela estiagem, arderam em chamas, tornando o ar insuportável para o ser humano - este final de semana fui a BH ver o Show de Caetano e Bethânia, e não consegui ver o belo céu nem o horizonte de Belo Horizonte, pois este estava tomado pela fuligem branca que vinha das queimadas de Minas. Isso fez com que todos nós ficássemos com a luz vermelha acesa -literalmente-. Não se trata mais de uma questão local, trata-se de uma crise global, a emergência climática. À medida que o mundo enfrenta ondas de calor insuportáveis, secas prolongadas e eventos climáticos cada vez mais severos, a destruição das florestas brasileiras ganha uma relevância ainda maior no cenário internacional.

O Brasil é o guardião da Floresta Amazônica, lar de uma das maiores biodiversidades do planeta, e como tal, desempenha um papel essencial no enfrentamento da crise climática. A Amazônia, chamada de "pulmão do mundo", atua como um vasto reservatório de carbono, ajudando a regular o clima. Quando a floresta queima, todo o carbono armazenado por séculos é liberado na atmosfera, acelerando o aquecimento global. O Brasil passou de heroi a vilão do planeta, sendo classificado hoje como o país mais poluidor do mundo, tendo São Paulo a triste marca de cidade mais poluída, superando Tóquio, Pequim  e Cidade do México, que eram até então as campeãs de poluição.

Por trás dessas queimadas está uma perigosa combinação de políticas públicas frágeis, praticadas por governos de matizes diversas - à direita e à esquerda-, desmatamento descontrolado e interesses econômicos que favorecem a expansão da agricultura e da pecuária em detrimento da preservação ambiental. O fogo, utilizado frequentemente para "limpar" áreas destinadas ao cultivo e à criação de gado, reflete uma visão de curto prazo, ignorando os impactos devastadores no futuro. O resultado é a destruição não apenas das florestas, mas também do equilíbrio climático global.

A emergência climática já não é uma ameaça distante: ela está aqui. O aumento das temperaturas e os prolongados períodos de seca tornam a Amazônia e o Cerrado ainda mais vulneráveis ao fogo. O que antes era uma queimada sazonal agora se espalha por meses, consumindo ecossistemas inteiros e provocando perdas irreparáveis à biodiversidade.

E os impactos vão além do meio ambiente. Comunidades indígenas, ribeirinhas e pequenos agricultores, que há séculos vivem em harmonia com a floresta, estão entre os mais afetados. A fumaça gerada pelas queimadas agrava problemas respiratórios, gerando uma crise de saúde pública em várias regiões. No entanto, quem se importa com essas populações, elas não fazem parte do sistema capitalista, as suas vozes raramente chegam aos centros de decisão. Os governos só tomam providência, quando isso começa a afetar as grandes cidades, como está acontecendo agora.

Mas há aqueles que negam que essa crise climática seja provocada pela ação humana. Os chamados negacionistas, minimizam o impacto das queimadas e do aquecimento global provocado pela queima de combustíveis fósseis. Eles argumentam que o fogo sempre fez parte da história do Brasil e do mundo, que os incêndios são naturais ou fazem parte de um ciclo histórico de uso da terra. Para eles, existe um exagero promovido pela mídia e por ativistas ambientais, interessados em impor restrições que prejudicariam o desenvolvimento econômico, especialmente no agronegócio, defendem que o Brasil, como país em desenvolvimento, deve priorizar o crescimento econômico em detrimento de preocupações ambientais "exageradas".

 O argumento recorrente é que as mudanças climáticas são cíclicas e que o papel humano é mínimo ou insignificante. Eles afirmam que o clima do planeta sempre passou por variações e que, por isso, as queimadas não estariam necessariamente ligadas à crise climática global, provocada pelo homem.

Outros negacionistas adotam uma postura mais radical ainda, alegando que o Brasil tem o direito de explorar seus recursos naturais e que as críticas internacionais às queimadas são parte de uma "agenda global" para enfraquecer a soberania nacional. Eles questionam o consenso científico, afirmando que as opiniões sobre a crise climática não são unânimes e que o debate está "em aberto".

Esses argumentos, no entanto, ignoram o vasto corpo de evidências científicas que ligam as atividades humanas – como o desmatamento, a queima de florestas e o uso dos combustíveis fósseis – à intensificação das mudanças climáticas. A emergência climática já está impactando diretamente a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, e negar isso é não reconhecer o papel que todos nós devemos desempenhar na busca por soluções.

A crise climática não respeita fronteiras. O que acontece nas florestas brasileiras ecoa no resto do mundo. Sem uma Amazônia saudável e preservada, a luta contra o aquecimento global fica cada vez mais difícil. Se o Brasil deseja ser parte da solução, precisa começar a valorizar suas florestas como o patrimônio global que são.

O futuro do planeta está em jogo, e cada hectare queimado é uma derrota na luta contra a emergência climática. O momento de agir é agora, ou será que já passou do tempo.

Filinto Branco - colunista político.

 

Por Ultima Hora em 15/09/2024
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