Rebeca Andrade e Vinícius Júnior mandam recado para os prefeitos de suas cidades

Rebeca Andrade e Vinícius Júnior mandam recado para os prefeitos de suas cidades

O Brasil é o segundo país mais violento da América do Sul. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023 foram registrados 46.328 homicídios, na ampla maioria dos casos (73,6%), o instrumento usado para matar pessoas foram armas de fogo. O relatório revela também que 71% das vítimas são jovens negros que moram em bairros pobres da periferia de diferentes cidades. Guarulhos (SP) e São Gonçalo (RJ) ostentam lugar de destaque nessa lista.
A ginasta Rebeca Andrade, que ontem (5), tornou-se a maior atleta olímpica do Brasil em todos os tempos, ao conquistar medalha de ouro na final da ginástica de solo nas Olimpíadas de Paris 2024, superando a supercampeã e estelar Simone Biles, considerada por toda imprensa internacional como a grande favorita na disputa. Rebeca é nascida em Guarulhos (SP), tem 25 anos de idade, é negra e enquadra-se portanto, no perfil de jovens majoritariamente assassinados em sua cidade natal.
A bicampeã olímpica e maior medalhista da história do Brasil nas Olimpíadas, com 6 medalhas (2 ouros, 3 pratas e 1 bronze), foi criada sem pai. Tanto ela quanto seus sete irmãos foram sustentados modestamente por sua mãe, uma faxineira aguerrida que não mediu esforços nem sacrifícios para poder pagar pelo treinamento da filha quando constatou seu talento e sua vocação para o esporte. A distância entre sua casa e o centro de treinamento era muito grande e para chegar aos treinos, Rebeca, por dificuldade de acesso a transporte motor, caminhava por aproximadamente duas horas, a pé, acompanhada pelo seu irmão mais velho, visto que no horário dos treinos sua mãe estava trabalhando para tentar transformar o sonho da filha em realidade. Hoje, no topo da elite esportiva mundial, a atleta reconhece que o apoio da família foi determinante para chegar aonde chegou.
A pergunta que não cala é a seguinte: tomando como base a idade, a raça e o ambiente social em que vivia, como seria contada a história de Rebeca Andrade hoje, não fosse seu envolvimento com o esporte desde a infância?
Comprovadamente, a Educação, o Esporte e a Cultura são três poderosíssimos instrumentos de transformação social. Investir nesses setores impulsiona qualquer nação à prosperidade econômica e equilíbrio social. Basta observar o ranking de medalhas de ouro nessa e em outras olimpíadas para constatar que China, Estados Unidos, Japão e Alemanha estão sempre se revezando no pódio. Isso não acontece por acaso. É fruto de investimento arrojado e simultâneo em Educação e Esporte para crianças e adolescentes. O Brasil raramente consegue alcançar esse patamar nos pódios porque há uma injustificável negligência e indolência dos nossos governantes. Tanto no âmbito municipal, estadual e federal o descaso é o mesmo. Quando um grande triunfo esportivo é alcançado, isso ocorre graças ao talento extraordinário de atletas como Rebeca, que só Deus sabe o que teve que amargar de preconceito, discriminação, humilhação e sofrimento para experimentar, ao final, o doce sabor de uma conquista histórica para o Brasil.
Vale ressaltar, porém, que a falta de apoio estrutural e a falta de incentivo institucional do poder público para viabilizar o acesso de crianças e adolescentes ao esporte não se restringem à ginástica olímpica. No universo do futebol, Vinícius Jr., o jogador brasileiro mais vitorioso e valorizado no mundo nos dias atuais, também sofreu na pele, ainda criança, os efeitos nefastos causados pela indiferença dos governantes. Menino negro, nascido e criado em São Gonçalo, o craque do Real Madri, considerado atualmente um dos melhores jogadores de futebol do mundo, assim como Rebeca Andrade também teve que romper as sólidas barreiras que o racismo estrutural coloca no caminho dos negros periféricos que buscam sucesso no exercício de suas atividades. Com muita luta e perseverança conseguiu transpor essas dificuldades sem qualquer apoio institucional do poder público local. Prosperou valendo-se do seu talento e capacidade de trabalho, e contando apenas com apoios modestos, porém relevantes, da família e de amigos que vislumbraram nele um rapaz determinado a alcançar seus objetivos na vida. Hoje, quando visita sua cidade natal, o que não falta são políticos desavergonhados e oportunistas prestando-lhe homenagens, oferecendo-lhe honrarias e acotovelando-se para aparecer numa foto ao seu lado. Na verdade, o que o prefeito Capitão Nelson e toda esses bajuladores que lhe ajudam torrar recursos públicos bilionários com obras eleitoreiras deveriam fazer é o que Vinicius Jr está fazendo com seus recursos próprios: investir no desenvolvimento intelectual das crianças pobres da periferia de São Gonçalo por meio da Educação, Cultura e Esporte. Vinícius sabe melhor que ninguém que nas entranhas das comunidades pobres do município, historicamente dominadas por traficantes e milicianos, existem milhares de crianças e adolescentes talentosos como ele, que só precisam de uma oportunidade para mostrar seu valor. Vinícius está reservando uma parte do seu salário como atleta para investir nesse projeto social. O Capitão Nelson, que foi eleito pelo povo para fazer exatamente isso, não está fazendo a sua parte como deveria. Precisa por a mão na consciência e colocar os interesse da população acima dos seus interesses políticos. Mais objetividade nos investimentos sociais e menos politicagem na gastança do dinheiro público é tudo que se espera de um prefeito verdadeiramente preocupado e comprometido com o futuro da cidade. 

 

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Por Ultima Hora em 06/08/2024
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