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Rio de Janeiro – Parece que Eduardo Paes encontrou sua verdadeira vocação: desconstruir o que está feito para prometer algo melhor. Depois de se vangloriar da demolição do Elevado da Perimetral e da chamada revitalização da área portuária – que, convenhamos, trouxe mais problemas que soluções –, agora o prefeito mira suas escavadeiras para o Elevado Trinta e Um de Março. Inaugurada em 1977, a estrutura que conecta o Centro à Zona Sul pode ser a próxima vítima dessa obsessão por "reurbanizar" a cidade.
Os defeitos e as desculpas
Não há dúvidas de que o Elevado Trinta e Um de Março tem seus problemas. É uma estrutura velha, com manutenção que nem sempre foi levada a sério, e, sim, pode parecer um entulho urbano para quem preza pela estética. Mas será que esses argumentos justificam sua demolição? A prefeitura afirma que o projeto vai “reintegrar” o Centro ao restante da cidade, promovendo espaços mais acessíveis e humanos. Bonito no papel, não é? Só que já ouvimos isso antes.
Basta lembrar do caso da Perimetral: prometeram um Porto Maravilha, mas o que vimos foi uma bolha imobiliária, deslocamento de moradores e um trânsito que ficou ainda pior para quem dependia daquela ligação viária. Será que queremos repetir a dose?
Os pontos a favor (porque eles existem)
É verdade que grandes intervenções urbanas podem trazer benefícios, se bem executadas. Um espaço mais acessível, com áreas verdes e foco no pedestre, é algo que qualquer cidade moderna almeja. Também é inegável que o Rio precisa olhar para o futuro, e deixar de lado estruturas ultrapassadas faz parte desse processo.
Mas, e aqui entra a questão crucial, a execução desses projetos no Rio tem um histórico que inspira pouca confiança. Será que a nova intervenção vai ser pensada de forma a beneficiar toda a população ou será apenas mais um presente para investidores e empreiteiras?
Os pontos contra (porque eles são muitos)
Um elevado pode não ser bonito, mas é funcional. Ele carrega milhares de veículos diariamente, aliviando o tráfego em vias menores. Retirar essa estrutura sem um plano de transporte público robusto é, no mínimo, imprudente. A cidade, já saturada de engarrafamentos, vai suportar mais esse golpe? Além disso, os custos de uma obra desse porte são astronômicos. Em um momento de crises múltiplas, como justificar essa prioridade?
Desconstruir para quê?
O que incomoda, no fim, é a sensação de improviso. Parece que a prefeitura decidiu demoli-lo primeiro para só depois pensar no que fazer com o espaço. Esse modus operandi de "desmontar para ver no que dá" já deixou marcas profundas no Rio: obras inacabadas, espaços que nunca se tornaram o que foi prometido e um senso crescente de que a cidade está à deriva.
E enquanto Eduardo Paes segue com sua saga de "transformações", os cariocas assistem, céticos, a mais uma grande promessa. Afinal, será que, no Rio de Paes, o futuro está sendo construído ou apenas vendido como mais uma bela propaganda?
Uma coisa é certa: desmontar é fácil. Construir, de verdade, é que é o desafio.
Por: Arinos Monge.
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