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Assistindo o debate eleitoral e os movimentos das campanhas nos últimos dias percebo, que a chama das paixões políticas e o campo das irracionalidades, que as paixões comportam arrastaram, para a arena dos embates, uma das relíquias mais sagradas do povo brasileiro: a religiosidade.
Dono de uma fé híbrida, plural e diversa, o brasileiro é antes de tudo um povo que tem fé.
Igrejas fechando portas, a fim de salvaguardar seus fiéis da sanha dos radicalismos, templos transformando-se em ringues de luta ideológica, missas vaiadas, desrespeito à Padroeira, tensão constante nas ruas, nas esquinas, nos altares. Em muitos casos, cultos nos quais, dependendo da liderança, a opção política representa a porta da salvação ou o inferno na terra.
Fiéis temendo proferir suas escolhas políticas, pois o “amai-vos uns aos outros” é hoje apenas uma referência bíblica e não mais um modo de vida. Amar o Outro não inclui questionar suas convicções, sua orientação política, seu viver como cidadão. Significa simplesmente amar, não “apesar de”, mas amar.
Como candomblecista e como tantos que professam a mesma fé que a minha, lidar com a intolerância é uma tarefa diária, nas ruas, nos transportes públicos, nos ambientes cotidianos invadidos pelo primado da ignorância, do obscurantismo, do grito raivoso, da demonização, o que faz de nós, alvos constante dos intolerantes.
Fica a pergunta: e o amor ao próximo como a ti mesmo? Religião significa nossa ligação com o universo do sagrado, do incomensurável à razão humana. Significa a busca do equilíbrio, da temperança, da procura do Eu em nossa fé. Sendo assim, arrastar a religião para o debate político traduz-se em navegar em águas densas e turbulentas. Somos cidadãos portadores de direitos civis, sociais e políticos.
Votar é um dever cívico, é a nossa contribuição, para o fortalecimento da democracia conquistada em cenários de luta. Mas deixem o Sagrado no lugar dele.
Debata, opine, discuta, participe, mas preserve sua fé e no que você acredita, pois a eleição vai passar, novos tempos virão e que nossa fé nos livre: do mal-amado, do mau-olhado e do mal-humorado. Democracia sempre.
Por Maicon Salles
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