Selic nas Alturas, Isenção do IR no Papel: O Dilema Econômico de Lula

Selic nas Alturas, Isenção do IR no Papel: O Dilema Econômico de Lula

Caros leitores e leitoras,

O Brasil é uma terra de contrastes, e esta semana trouxe mais um desses paradoxos econômicos. De um lado, a Selic foi elevada para 14,25%, encarecendo ainda mais o crédito e o financiamento. Do outro, o governo enviou ao Congresso um projeto para isentar o Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil. Uma notícia ruim e outra boa – mas, como sempre, a vida real é mais complicada do que o marketing oficial.

O aumento da Selic mantém o Brasil entre os países com os maiores juros reais do mundo. No início do ano, liderávamos esse ranking; Agora, (perdemos o campeonato) caímos para a quarta posição, atrás da Turquia, Argentina e Rússia. Isso significa que, apesar da alta dos juros, nossa inflação não desacelerou na mesma proporção, o que nos fez perder o primeiro lugar nesse nada honroso pódio.

E Lula? Conhecido por suas críticas ácidas ao Banco Central e, em particular, ao então presidente Roberto Campos Neto, agora adota uma estratégia de silêncio. Curiosamente, evitou qualquer embate com o atual chefe do BC, Gabriel Galípolo – que, afinal, foi sua indicação. Essa mudança de postura pode ser vista tanto como uma tentativa de não inflamar os ânimos do mercado quanto como uma estratégia para minimizar riscos políticos em um cenário já conturbado. Mas o problema do silêncio é que ele não convence ninguém: nem o eleitor, que sente os juros no bolso, nem o empresário, que segue desconfiado da política econômica do governo.

Já a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil pode representar um alívio para a classe média, mas sua aprovação não será simples. O impacto na arrecadação preocupa os parlamentares, e a oposição já ensaia discursos sobre o risco fiscal que a medida pode gerar. O governo aposta na popularidade do projeto, mas sabe que convencer a Câmara e o Senado exige habilidade política – e concessões.

O grande problema é que a conta não fecha. Para compensar a perda de arrecadação, o governo propõe tributar os super-ricos e os lucros e dividendos de empresários e investidores. No entanto, essa ideia enfrenta forte resistência em um Congresso pouco disposto a contrariar os interesses do setor empresarial e financeiro. Os parlamentares já sinalizaram oposição a qualquer aumento da carga tributária sobre grandes fortunas, e a proposta de tributação de dividendos esbarra em um poderoso lobby do mercado. Além disso, uma base governamental, fragmentada, tem dificuldades para construir um consenso que viabilize a aprovação da compensação fiscal. No fim das contas, o risco é que a isenção do IR seja aprovada sem uma contrapartida realista, ampliando o déficit fiscal e deixando o governo com um problema adicional para administrar em 2026: como sustentar o alívio tributário para a classe média sem comprometer um orçamento já limitado e sem contar com a disposição do Congresso para dividir essa conta.

E como tudo isso impacta as eleições? A equação é simples: se a isenção for aprovada e sentida no bolso do eleitor, Lula terá um trunfo para tentar neutralizar a insatisfação com a economia. Mas se o projeto emperrar, for desidratado ou não compensar o peso do aumento da Selic nas contas das famílias, o governo corre o risco de ver a inflação e os juros elevados dominarem a narrativa eleitoral. A queda recente na popularidade do presidente já reflete a impaciência do eleitorado e, se o cenário não mudar, a promessa de pagar menos impostos pode ser soterrada pela realidade de um custo de vida cada vez mais alto.

Lula se equilibra entre o silêncio sobre a Selic e a empolgação com a isenção do IR. Resta saber se essa estratégia lhe renderá aplausos ou se, no fim, o eleitor se lembrará mais do peso dos juros do que de uma promessa fiscal que pode nunca sair do papel.

Semana que vem tem mais. Bom domingo para todos.

Filinto Branco – colunista político

Por Ultima Hora em 23/03/2025

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