TCU diz que general revogou normas para rastreamento de armas sem justificativa técnica

Na Presidência, Jair Bolsonaro atuou contra restrições às armas

TCU diz que general revogou normas para rastreamento de armas sem justificativa técnica

 

Segundo o tribunal, general Laerte de Souza Santos não apresentou motivação para revogar as normas vigentes

TCU diz que general revogou normas para rastreamento de armas sem justificativa técnica

O Tribunal de Contas da União (TCU), por meio da secretaria-geral de controle externo, emitiu uma recomendação para responsabilizar e multar um general do Exército pela revogação de três portarias que regulamentavam o rastreamento de armas e munições nas mãos de civis. A informação foi publicada no jornal Estado de S. Paulo, em reportagem dos jornalistas Karina Ferreira e Vinícius Valfré.

O parecer foi tornado público na última segunda-feira (23). O tribunal considerou que Laerte de Souza Santos, Comandante Logístico do Exército durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), agiu com desvio de finalidade ao editar a Portaria Colog 62/2020, que revogou, em 17 de abril de 2020, três diretrizes que auxiliavam a identificação de armas e munições e permitia o rastreio delas.

O Exército informou em nota que acompanha as diligências realizadas pela Corte de contas, e que “não se manifesta sobre processos conduzidos por outros órgãos”, em “respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República”

De acordo com o TCU, Laerte não apresentou motivação para revogar as normas vigentes, e, quando questionado, apresentou justificativas diferentes para três órgãos distintos – Ministério Público Federal (MPF), Supremo Tribunal Federal (STF) e à própria Corte de contas. Os técnicos do tribunal relata que o então comandante afirmou ter tido assessoramento técnico para a formulação e publicação da revogação, porém, não apresentou documentos comprovando que tenha buscado ou recebido tal assessoria.

“A cada um dos mencionados órgãos o gestor apresentou motivos diferentes para justificar decisão adotada. Conforme denota a análise registrada nesta instrução, muitos motivos elencados pela autoridade se referem a erros de redação que poderiam ser facilmente corrigidos ou de insatisfação dos administrados com o prazo concedido para que se adaptassem às novas regras impostas pela Administração, o que poderia ser sanado com expansão no prazo para a sua entrada em vigência. Outros motivos, como aqueles apresentados ao TCU, simplesmente não encontram respaldo na realidade […]”, diz trecho do parecer.

As normativas revogadas pelo general, hoje na reserva, dispunham sobre os procedimentos administrativos relativos ao acompanhamento e rastreamento de produtos controlados pelo Exército, sobre a identificação e marcação das armas de fogo fabricadas no País, exportadas ou importadas, bem como das embalagens e cartuchos de munição. Para a auditoria do TCU, o gestor “incorreu em erro grosseiro, pois decorreu de grave inobservância do dever de cuidado”.

Tribunal indica responsabilização do general

Durante o governo de Jair Bolsonaro, a liberação de registros de CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores de armas) concedidos pelo Exército foi facilitada por meio de portarias e decretos, enquanto a Força não reforçou ações de fiscalização, cuja responsabilidade também lhe compete.

Dessa forma, os CACs se tornaram o maior grupo armado do País, ultrapassando as polícias e ganhando espaço como base de apoio do ex-presidente.

A responsabilização do ex-comandante por “retardar injustificadamente” o “aprimoramento de políticas públicas” que versam contra a fabricação e o tráfico ilícitos de armas de fogo, munições, explosivos e outros materiais correlatos, disposto inclusive em convenções internacionais sobre o tema, inclui sugestão de uma multa de R$ 17 mil.

O valor poderá ser parcelado e deve começar a ser pago em 15 dias a partir do recebimento da notificação. Atualmente na reserva, o general tem vencimento bruto de R$ 37.988,22, que após os descontos vai para cerca de R$ 29 mil.

O documento será analisado pelos ministros do TCU, em plenário. Esta análise ainda não tem data para ocorrer.

Por Ultima Hora em 31/12/2024
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