Um gordo chamado Jô (ou um gênio chamado Jô)

Jô Soares, grande artista, grande figura

Um gordo chamado Jô (ou um gênio chamado Jô)

Talvez o título mais correto fosse: “Um Gênio Chamado Jô”. Essa história está recontada no magnífico livro de Jô Soares e Matinas Suzuki Jr, “O Livro de Jô”, da Companhia das Letras, que tanto sucesso está fazendo. 

“A história mais famosa de Gilberto Amado foi relatada por Sebastião Nery no seu Folclore Político, envolvendo um diálogo entre ele e Getúlio Vargas. Aproveitamos esse caso em meu espetáculo “Brasil: Da Censura à Abertura, de 1980, que escrevi com Armando Costa e José Luiz Archanjo, baseado no anedotário político nacional recolhido por Sebastião Nery, cujo elenco era composto de Marília Pera, Sylvia Bandeira, com quem eu estava casado então, Camila Amado, Marco Nanini e Geraldo Alves. Eis o trecho: 

“- Presidente, eu quero ser governador de Sergipe. 

– Por que, Gilberto? 

– Porque eu quero. É a hora. 

– Mas, Gilberto, tu, um homem tão grande, ser governador de um estado pequeno? 

– Eu quero dirigir minha tribo, presidente. Isso é fundamental pra minha vida. 

– Ora, Gilberto. Eu te conheço muito bem. Essa não pode ser a verdadeira razão. 

– Claro que é, presidente. 

– Não pode ser. Governar por governar? Isso não existe para um homem do teu tamanho, da tua grandeza. 

– Tem razão, presidente. O senhor quer que eu diga, eu digo. Eu quero ser governador pra roubar, roubar, roubar do primeiro ao último dia! (Andando de um lado para o outro) Roubar desesperadamente! Ouviu, presidente? Roubar! Roubar! Roubar! 

UM DISCURSO DE DUTRA – Outra história, está em homenagem ao general Dutra: 

Casado e calado. O presidente Dutra foi, talvez, o nosso político mais calado desde o tempo em que ele era ministro da Guerra. Levantava-se todo dia às quatro da manhã, fazia uma inspeção na Vila Militar e às seis e meia estava no ministério. Ia sempre acompanhado de um ajudante de ordens que nunca lhe ouvia a voz. Uma manhã, assim que ele chegou, o então major Humberto de Alencar Castello Branco (futuro primeiro presidente da ditadura militar), oficial de gabinete, perguntou ao ajudante de ordens, capitão Fragomeni: 

– Então? Como é que está o homem hoje? 

– Ótimo. Até conversou muito comigo. 

– Não me diga! 

– Conversou sim. Quando a gente chegou na altura do Maracanã, ele respirou fundo e disse: “Tá quente hoje!”. 

– Puxa! E olhe que ele não é de fazer discurso longo de manhã.” 

UM ALMOÇO COM CLOUZOT – Dos 4 aos 79 anos, Jô é ator, escritor, diretor de teatro, músico. Ele conta: 

“Em Paris, meu pai almoçava com Gilberto Amado e eu fui encontrá-los. O menu do restaurante da Maison de l´Amérique Latine variava conforme o dia da semana, oferecendo um prato típico dos países da América Latina. Sábado era o dia da feijoada e fomos nos encontrar com os brasileiros que viviam na capital francesa. Gilberto Amado estava lá com sua filha Vera e o genro, o famoso cineasta francês Henri-Georges Clouzot. A atriz Vera Clouzot, como ficou conhecida, aparecera em 1953, no ótimo filme realizado pelo marido, “O salário do medo”, que ganhou o Gran Prix no Festival de Cinema de Cannes e o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim. 

Apesar do sucesso de Clouzot, seu sogro, Gilberto Amado, homem de opiniões fortes, o detestava. A dada altura da feijoada o diretor se levantou para ir conversar em outra mesa, e Amado não perdeu tempo. Virou-se para Vera e falou: 

– Por que você não põe chifres neste homem? Você tem que cornear este homem, ele é um chato!” 

Foto: Reprodução/Internet.

  SEBASTIAO NERY - Jornalista e Escritor e Colunista da Tribuna da Imprensa, 1968-1979. 

 

 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Tribuna da Imprensa Digital e é de total responsabilidade de seus idealizadores. 

Por Ultima Hora em 13/04/2021
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