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Depois que o governo russo anunciou no dia 14/12 que haviam criado uma vacina contra o câncer, com distribuição gratuita para a população a partir de 2025, criou-se um alvoroço porque até então não havia publicações russas sobre o assunto e não há compreensão científica de como a vacina foi criada ou funcione, segundo a Dra. Ignez Braghiroli, oncologista clínica e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica em entrevista ao Conexão/Record News.
O anúncio foi realizado por Andrey Kaprin, diretor-geral do Centro de Pesquisa Médica em Radiologia do Ministério da Saúde da Rússia. Esse tipo de notícia é recebida de braços abertos pela população, principalmente por se tratar de uma doença que está em segundo lugar como causadora de óbitos no mundo, perdendo apenas para as doenças do coração. Mas será possível uma vacina para o câncer?
Simplificadamente, o câncer é uma colônia de células rebeldes. Ele pode surgir por diferentes fatores (estímulos) onde uma única célula decide que não vai mais seguir o “controle de natalidade” fisiológico e começa a se dividir desenfreadamente e todas as suas filhas têm a mesma característica rebelde.
Se o motim acabar por aí, forma-se um tumor benigno que vai atrapalhar por comprimir os tecidos a sua volta. Mas, se existir a tendência dessas células rebeldes em deixar o motim para formar novas colônias de motim, daí temos um problemão chamado metástase e o câncer se instala.
O termo imunoterapia já é uma realidade para tratamento de diferentes tipos de cânceres e veio como uma novidade para junto com os quimioterápicos tradicionais, ou isoladamente, ser uma ferramenta importante contra esse mal que causa temor em muitas pessoas, seja pelo receio em vivenciar a famigerada doença na própria pele ou na pele de algum familiar, levando-as a usarem o apelido “aquela doença”.
Essa terapia se baseia em usar o sistema imunológico para combater as células cancerígenas, mas não chega a ser uma “vacina”.
Depois das vacinas de RNAm para a COVID, houve maior abordagem de pesquisas científicas usando vacinas de RNAm contra o câncer e desde o início do ano, cientistas ao redor do mundo estão publicando artigos sobre vacinas para diferentes tipos de cânceres usando a tecnologia de RNAm, que é exatamente a mesma tecnologia divulgada pelo governo russo.
No Brasil, o Projeto RNA/Bio-Manguinhos da Fiocruz, após pausa que direcionou os recursos para vacinas anti-covid durante a pandemia, retomou as pesquisas para essa classe de vacinas de RNAm, contra o câncer de mama. A Inglaterra está na liderança dessa corrida, com a divulgação, em maio desse ano, do início da fase final dos testes da vacina criada pela BioNTech, sob coordenação do University College London Hospitals NHS Foundation.
O primeiro paciente a receber uma dose da vacina personalizada para o câncer colorretal foi Elliot Pfebve, beneficiado do programa chamado “Cancer Vaccine Launch Pad” do NHS, que facilita a captação de potenciais pacientes para o estudo.
A vacina usada em Elliot foi fabricada com uma amostra do tumor removido cirurgicamente e enviada para a BioNTech, que identificou as mutações específicas do tumor e a partir dessas informações, criou uma vacina de RNAm, que contém instruções para as células do Elliot produzirem essas proteínas mutantes específicas do tumor.
O sistema imunológico então consegue reconhecer essas proteínas e produzir anticorpos contra elas. Assim, é como se colocasse um “alvo” nas células cancerígenas, que mesmo que estejam escondidas pelo corpo, tentando iniciar sua colônia rebelde, acabam sendo identificadas e exterminadas pelo sistema imunológico, impedindo o reaparecimento do câncer após a remoção cirúrgica.
O objetivo é que a vacina prepare seu sistema imunológico para procurar e destruir qualquer vestígio remanescente de câncer, aumentando assim as chances de que o paciente esteja livre da doença nos próximos anos. Esses tipos de ensaios clínicos nos dão esperanças para que mais pessoas possam ter longevidade com qualidade, livres do medo do câncer.
Profª. Drª. Adriana Pedrenho
Departamento de Ciências Fisiológicas, UFRRJ
Idealizadora da Nave Química Fisiológica
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