Voto impresso, a verdadeira cloroquina de Bolsonaro

Em menos de 12 horas presidente da República faz três pronunciamentos com ameaças à democracia, insiste em questionar o sistema eleitoral que sempre o elegeu, ataca Luís Roberto Barroso (presidente do TSE) e acusa o STF de orquestrar manobra para a volta do ex-presidente Lula à presidência

DA REDAÇÃO - Acusar os inimigos políticos de tudo o que ele faz e é parece mesmo ser a principal característica do presidente da República Jair Bolsonaro (Sem Partido). Ao acusar o ex-presidente Lula de usar a democracia para impor uma ditadura, o mandatário do executivo federal explicita o que analistas políticos (à direita e à esquerda) têm apontado desde que ele ganhou as eleições.

A tese é a seguinte: Bolsonaro chegou à presidência através do voto, mas utiliza a presidência para erodir o edifício institucional que sustenta a nossa República, corroer nossa cambaleante democracia por dentro e fechar o regime.

E hoje ele deu três passos nessa direção. Primeiro, em encontro com apoiadores na porta do Palácio do Planalto onde proferiu uma série de ataques pessoais, desinformação e vitimismo inéditos. Depois, em entrevista à rádio ABC, do Rio Grande do Sul e no final da tarde em cerimônia no Banco do Brasil, onde repetiu a cantilena do voto impresso, auditável e público (?) e as ameaças de impedir a realização das eleições em nome da ‘liberedade.’

Em conversa com apoiadores que durou 40 minutos, o chefe do Executivo fez diversas críticas ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para justificar sua verdadeira cloroquina, o voto impresso e auditável.

“O que está em jogo? É impor uma ditadura no Brasil usando as armas da democracia. Se esse cara [Lula] volta, e tem tudo para voltar… Vamos pegar a realidade, é a realidade. Os mesmos que o tornaram elegível é que vão contar os votos na sala secreta. Acha que não vai voltar?”, disse o presidente no Palácio da Alvorada.

E completou: “Quem quer eleição suja e não democrática é o ministro Barroso. Esse cara se intitula como quem não pode ser criticado. Ele foi para dentro do parlamento fazer lobby”.

Bolsonaro afirmou que, se Lula for eleito em 2022, o Brasil acaba. Chamou o ex-presidente de picareta, bêbado, cachaceiro, incompetente e corrupto.

“Se esse picareta voltar, qual o perfil daqueles que ele vai indicar para o Supremo? Acabou o Brasil, pessoal. Acabou a democracia, a liberdade, tudo”.

Continuou: “Problemas a gente tem. Agora quer trocar o motorista e botar um bêbado, incompetente e corrupto para dirigir o Brasil?”

O presidente declarou que a defesa do terrorista italiano Césare Battisti “credenciou” Barroso para a vaga no Supremo.

“Como ele foi advogado, o PT gostou dele. Entre outras coisas, defende o aborto, a liberação de drogas, ele defende um montão de coisa que não presta. Ele se acha o máximo. Mas tem o limite dele. Eu tenho os meus limites, e ele tem os dele. Está abusando e não é de hoje”, disse.

Depois de dizer, no início de seu mandato que “quem gosta de pobre é o PT”, hoje o presidente da República deixou clara a sua preferência ao comentar a proposta de taxação das grandes fortunas contemplada na Reforma Tributária.

“Dividir riqueza e renda? Alguém conhece algum empresário socialista? Algum empreendedor comunista? Alguns querem que eu taxe grandes fortunas. É um crime agora ser rico no Brasil? A França há poucas décadas fez isso; o capital foi para a Rússia”, disse no evento de lançamento do Programa Água nas Escolas.

E no mesmo evento Bolsonaro usou de forma mais moderada a tática do medo para unir e controlar. “‘Ah tem que ter cautela, cuidado com as palavras’. O inimigo está aí. O risco está aí”, disse.

E voltou a atacar o sistema eleitoral e o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso. “Nós temos que ter eleições limpas, democráticas que possam ser auditadas. […] Por que um não quer eleições democráticas, o voto democrático? Nós temos que abaixar a cabeça? Estão com medo do quê? Qual o poder do presidente do TSE ir para dentro do Parlamento e rapidamente fazer a cabeça de várias lideranças partidárias para trocar integrantes de comissão? Para não ter o voto impresso?”, atacou.

Ontem o TSE publicou um vídeo em suas redes sociais onde demonstra que o sistema de apuração atual já compreende o voto impresso e auditável.

Por Ultima Hora em 02/08/2021
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